José, João, Jorge, como vais?
Vejo que esta semana acordaste orgulhoso por ser português e determinado em defender o que te pertence. Isso é bom, Carla, Cristina, Cândida, Célia. Isso é muito bom. Partilhas vídeos chocantes de supostos árabes com explicações em idiomas desconhecidos. Não sabes quem são, o que dizem, onde estão nem o que se passa. ...
Mas isso, que interessa? Falam como cães e escrevem gatafunhos. E isso chega para alimentar a tua certeza. Homens que batem em mulheres, como nunca aconteceu aqui. Gente que cospe para o chão, como nunca se vê por cá. Gente que cheira mal, de certeza, e que suja autocarros e as estradas. Os telemóveis que usam... de certeza que os roubaram na Hungria.
Hoje, David, Dario, Duarte, estás indignado.
Indignado porque temes uma invasão de gente estranha, castanha, com manha, gente capaz de vender as mães e de queimar os filhos, gente que viola mulheres. Selvagens. Até porque, Pedro, Paulo, foi o que viste na televisão, entre a história da pizza do outro e antes de veres os resultados do jogo. O jogo que te mata, a paixão que te assolapa, o melhor do Mundo que te incha e os treinadores que amas muito.
Vais mudando de canal, vais falando com a Vanessa, Vanda, vais pensando nas letras do Audi, até porque entre salário em atraso e salário que não sobe, nunca vamos ter para nós, quanto mais para os outros.
Por isso, Alberto, António, pensas agora nos teus. Pensas nos mendigos a dormir na Praça do Comércio ou nos pobres do Bairro da Sé. És parte de uma onda de solidariedade e renasces, quem sabe, como um Cristão identitário sem medo, ainda que não ouças o que diz Francisco.
Nunca tiveste tempo para ir a manifestações, até porque eles são todos iguais e mais vale ir à praia. Nunca tiveste tempo para ajudar as crianças portuguesas que tanto de apoquentam, porque ganhas pouco e porque, Maria, Marisa, Marta, os cremes custam dinheiro e o consumo mínimo obrigatório na discoteca do centro também.
Por isso, queres o teu país limpo, Luís, Leandro, porque já tens problemas que cheguem. Limpo de estrangeiros dos quais não sabes nada, limpo de gente que foge, até porque a gente nunca fugiu. Afogas as redes sociais com bandeiras nacionais, como os que colocavam sapos à porta da loja para afastar o cigano.
Estás, Sofia, Soraia, no fundo, tão determinada e eufórica como quando a Seleção joga. Não assinaste petições para aquilo dos submarinos, aquilo da ponte, aquilo dos espiões, aquilo do dinheiro que vai desaparecendo, aquilo tudo. Mas tens tempo e vontade, Bruno, Bernardo, para travar a chegada de gente que vem sem nada, que tem ainda menos do que tu, pelo menos agora que fugiram da morte, da fome, ou das duas coisas.
Primeiro nós, primeiro os nossos quinhentos por mês, primeiro os nossos empreendedores de pacotilha, primeiro o nosso medo constante a fazer que algo mude. E depois, só depois, os outros.
Até porque se fogem de radicais, Miguel, Mário, Manuel, Daniela, Dalila, Diana, só podem ser piores.
Vejo que esta semana acordaste orgulhoso por ser português e determinado em defender o que te pertence. Isso é bom, Carla, Cristina, Cândida, Célia. Isso é muito bom. Partilhas vídeos chocantes de supostos árabes com explicações em idiomas desconhecidos. Não sabes quem são, o que dizem, onde estão nem o que se passa. ...
Mas isso, que interessa? Falam como cães e escrevem gatafunhos. E isso chega para alimentar a tua certeza. Homens que batem em mulheres, como nunca aconteceu aqui. Gente que cospe para o chão, como nunca se vê por cá. Gente que cheira mal, de certeza, e que suja autocarros e as estradas. Os telemóveis que usam... de certeza que os roubaram na Hungria.
Hoje, David, Dario, Duarte, estás indignado.
Indignado porque temes uma invasão de gente estranha, castanha, com manha, gente capaz de vender as mães e de queimar os filhos, gente que viola mulheres. Selvagens. Até porque, Pedro, Paulo, foi o que viste na televisão, entre a história da pizza do outro e antes de veres os resultados do jogo. O jogo que te mata, a paixão que te assolapa, o melhor do Mundo que te incha e os treinadores que amas muito.
Vais mudando de canal, vais falando com a Vanessa, Vanda, vais pensando nas letras do Audi, até porque entre salário em atraso e salário que não sobe, nunca vamos ter para nós, quanto mais para os outros.
Por isso, Alberto, António, pensas agora nos teus. Pensas nos mendigos a dormir na Praça do Comércio ou nos pobres do Bairro da Sé. És parte de uma onda de solidariedade e renasces, quem sabe, como um Cristão identitário sem medo, ainda que não ouças o que diz Francisco.
Nunca tiveste tempo para ir a manifestações, até porque eles são todos iguais e mais vale ir à praia. Nunca tiveste tempo para ajudar as crianças portuguesas que tanto de apoquentam, porque ganhas pouco e porque, Maria, Marisa, Marta, os cremes custam dinheiro e o consumo mínimo obrigatório na discoteca do centro também.
Por isso, queres o teu país limpo, Luís, Leandro, porque já tens problemas que cheguem. Limpo de estrangeiros dos quais não sabes nada, limpo de gente que foge, até porque a gente nunca fugiu. Afogas as redes sociais com bandeiras nacionais, como os que colocavam sapos à porta da loja para afastar o cigano.
Estás, Sofia, Soraia, no fundo, tão determinada e eufórica como quando a Seleção joga. Não assinaste petições para aquilo dos submarinos, aquilo da ponte, aquilo dos espiões, aquilo do dinheiro que vai desaparecendo, aquilo tudo. Mas tens tempo e vontade, Bruno, Bernardo, para travar a chegada de gente que vem sem nada, que tem ainda menos do que tu, pelo menos agora que fugiram da morte, da fome, ou das duas coisas.
Primeiro nós, primeiro os nossos quinhentos por mês, primeiro os nossos empreendedores de pacotilha, primeiro o nosso medo constante a fazer que algo mude. E depois, só depois, os outros.
Até porque se fogem de radicais, Miguel, Mário, Manuel, Daniela, Dalila, Diana, só podem ser piores.
1 comentário:
Brilhante minha querida Paula! Brilhante!
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